domingo, 30 de março de 2014

A irmã do Fredão - Final

Recomendo para quem não leu:  "A irmã do Fredão", e  "A irmã do Fredão II", é só clicar nos títulos.


Eduardo chega em casa, serve uma dose de uísque, vai até cozinha, coloca duas pedras de gelo, volta à sala e senta no sofá. Ele fica horas pensando na Micheli e como poderia ter sido se ele tivesse impedido a sua partida quando ela esteve em Porto Alegre.
– Como eu poderia saber que sentiria tanta falta? Como ela mexeu comigo deste jeito?
A sexta-feira chega e Eduardo mais conformado se arruma para ir à balada com seu grande amigo Fredão, que passa para pegá-lo, pois é o motorista da rodada.
Enquanto Fredão se diverte entre uma paquera e outra, Eduardo fica no balcão bebendo. Então, ele avista uma morena, que estava de costas, vai até ela e a toca no ombro.
– Micheli!
– Oi – responde meloso – Não! É Lucia, mas eu perdoo o erro, sente-se.
– Não obrigado, estou com um amigo.
– Não tem problema, diga pra ele vir também.
– Valeu, mas fica pra próxima.
Ao voltar para o balcão, Fredão já o esperava.
– Pô Edu! Nunca vi tu rejeitares um avião daqueles. Tá doente mesmo, véio.
– Não tenho nada, não. É coisa minha.
Alfredo leva a mão à boca como quem quer abafar o som, força uma tosse e diz:
– A coisa tua tá vindo aí.
– O que tu falaste?
– Ela tá vindo aí – disse, desta vez gritando.
– E só agora que me falas?
– Bom. Tu mesmo pediste pra não falar dela. Eu cumpri minha parte. Fiques sabendo que quem quebrou o combinado foi tu.
– Certo. Cara, vou embora. Não te aguento.
– Mas já? Agora que tá ficando bom.
– Fique de boa, eu vou de táxi. Não quero estragar tua noite.
E Eduardo foi para casa.  Em outras épocas ele já teria xavecado a morena e ganho o fim de semana, mas ele não era mais o mesmo. Só pensava na Micheli.
– Ela está vindo aí. – resmungou – Deve vir com o namorado. Certamente vai apresentar pra família. Eu nem vou aparecer. Não vou pagar um mico destes. Bom! Pelo menos desta vez o Fredão não vai viajar antes. Não tem perigo de o carro quebrar e eu ter que assumir a broca. – risos – E eu ainda consigo achar graça.
Alguns dias passam....
– Edu. Tem uma coisa que eu queria te dizer, – gargalhadas – mas não sei se tu queres saber.
– Se não quero saber, não me diz.
– Caraca! Que grosso.
– Para Fredão. É sobre a Mi, eu não quero saber, cara. Então, me poupe.
– Ok! Não vou dizer que ela chega hoje e que a mãe te convidou pra almoçar lá amanhã. Tá bom? Não vou te dizer. – mais gargalhadas.
– Sinto muito, mas já tenho compromisso. Não poderei ir – fala Eduardo, e enquanto o amigo se afasta ele pensa: – Compromisso de fugir disto. Eu quero que ela seja feliz, mas não preciso me envolver.
A noite passa...
No dia seguinte, Eduardo vai até a locadora e retira alguns filmes, depois vai ao supermercado e compra alguns congelados. Isto é uma coisa inédita para ele. Jamais planejou ficar um fim de semana inteiro em casa sozinho.
Algumas horas passam e todos os DVDs que Eduardo colocou para ver, passaram em vão, pois ele não prestou a mínima atenção. Desgastado com a situação ele cochilou, mas foi acordado pela campainha do seu apartamento.
– Ué! Que vizinho será? Gente de fora o porteiro não deixaria subir sem avisar.
Ele vai até a porta e abre sem olhar no visor.
– Micheli?
– Se a Maomé não vai a montanha – risos – não vai me dar um abraço.
Eles se abraçam e ela entra.
– Como conseguiste subir?
– Esqueceu que o Alfredo tem cadeira cativa aqui? Ele conhece o porteiro.
– E cadê aquele peste? Por que não quis subir?
– Bom. Ele me disse que a gente precisava conversar. Não me disse mais nada, mas deu pra perceber que ele sabe mais do que deveria, né seu Edu?
– Desculpa Mi, mas estava difícil de segurar. Nem dava para disfarçar.
– Não esquenta! Eu sempre fui a irmãzinha preferida dele, mesmo quando era a mais feia – gargalhadas.
– É! E agora é a mais linda, quer dizer, a única, quer dizer ah deixa pra lá. Tu sabes que tuas irmãs estão meio largadas mesmo.
– Meio? Que bonzinho. Eu quero saber por que o senhor foi no almoço lá em casa?
– Mi. Deixa para lá. Como está Brasília?
– Não desvia. Eu só vim porque o mano disse que não estavas bem. Eu disse que não ficaria no teu pé, mas fiquei preocupada.
– Eu sou assim mesmo.
– Não eras quando ficamos juntos naquele fim de semana. Passar uma noite comigo foi tão devastador assim? Ainda está com dor de consciência? Edu, eu estou bem. Eu quis. Pra mim foi ótimo. E eu disse que quero ser tua amiga sem cobranças.
– Eu sei que estás bem, e eu que não quero, não devo, nem posso cobrar.
– Como assim? Quem está falando que estás cobrando?
– Tá certo, Mi. Eu vou te falar. – respirou fundo – Eu fui a Brasília há poucas semanas atrás – e ela interrompe.
– E não me procuraste? Por que Edu? Poxa, eu ia amar te ver, mesmo como amigos.
– Espera. Eu fui te procurar, mas não como amigos, mas te vi com outro cara e vocês se beijaram. Então, voltei para o hotel e no dia seguinte vim embora.
– E o Alfredo não me disse nada.
– Eu pedi a ele pra não falar.
– Se tu tivesses me ligado, tudo isto poderia ter sido evitado.
– Evitado? Mas se tu estás envolvida com outra pessoa, evitar o que? Saíste daqui dizendo que me amava.
– Calma, Edu. Aquele cara não é nada.
– E o beijo? Eu vi. Não me contaram.
– Edu. Olhe no fundo dos meus olhos e deixa eu te falar tudo. Não tires conclusões precipitadas. O beijo aconteceu sim. O Jairo me convidou pra sair. Eu precisava de um amigo e dar uma espairecida. Eu fui pra casa me arrumar, mas ele chegou mais cedo. Ele me pegou de surpresa e me beijou. Eu confesso, correspondi naquele momento, pois estava muito carente e foi muito rápido. Só que logo depois, eu desisti de sair. Eu disse a ele que não estava preparada pra me envolver e também não queria nada pontual. Então, subi sozinha para o meu apartamento e nunca mais o vi.
– Quer dizer que se eu tivesse chegado um pouco mais cedo ou mais tarde, eu não teria voltado correndo pra Porto Alegre?
– Ou se tivesses me ligado, né seu tonto? Eu nunca que teria aceitado sair com ele, se eu soubesse que estavas lá.
– O Fredão tem razão mesmo.
– No que?
– Eu sou um mané.
– É mesmo, – risos – mas o que o senhor foi fazer em Brasília? Isto não ficou explicado, e vou puxar as orelhas dele por não ter me avisado.
– Não entendeste ainda, agora a Mané és tu. Eu fui pra te ver.
– Imaginei – risos.
– Convencida.
– Ah Edu! Se não fosse pra me ver não teria se importado com o beijo e teria ido falar comigo, não é mesmo?
– É! Tem razão, mas preciso te dizer outra coisa.
– Diga!
– Eu te amo!
– Para Edu! Vamos com calma. Até o mês passado tu nem querias saber de mim. Digamos que esteja impressionado, até apaixonado, mas me amar. Não brinque com isto.
– Mi, eu não te tirei da cabeça um minuto. Fui na balada e não fiquei com ninguém. Eu me aproximei de uma guria achando que era tu. Ela meio que me cantou e eu fui embora. Teu irmão estava lá, pode perguntar pra ele. Fui pra Brasília atrás de ti. Tá certo, o Fredão deu um empurrãozinho, mas fui. Eu nunca senti isto por mulher alguma. Eu te amo, tenho certeza disto.
– Não precisa. Eu acredito em ti. Bom. Amanhã vais almoçar lá em casa. Sem falta, ok?
– Amanhã? Tu não vais embora hoje!
Ele se aproxima e a beija. E o que vem depois... é o que vem depois... e tempo depois...
– Não precisa avisar que vais ficar aqui?
– Não. O Alfredo sabe que se eu não ligar, ele não precisa vir me buscar.
– Danada. Já tinha intenção de ficar, hein?
– Olha. Da última vez eu aproveitei uma situação. Desta vez eu vim preparada sim.
Amanhece e eles vão para o almoço. A situação desta vez é diferente. Eles chegam à casa da mãe de Micheli de mãos dadas. Eduardo feliz e sem sentimento de culpa olha todo mundo com a cabeça erguida e dá o recado:
– É isto ai pessoal. Estamos namorando.
Apenas Alfredo e a dona Alzira não se surpreendem, mas logo o clima de festa toma conta da casa.
– A senhora aprova meu namoro com a Micheli, dona Alzira?
– Meu querido, apesar de eu te ter com um filho, sempre torci pra que um dia isto acontecesse.
E a festa continua. E claro que as irmãs enxeridas falam em casamento e Micheli é quem tenta desviar o assunto enquanto Eduardo dá respostas afirmativas.
Quando o evento familiar acaba...
– Desta vez não vou embora na segunda. Tenho mais um dia.
– E como a tua casa tá cheia, não tem onde dormir – risos.
– É. Mas vou passar um tempo com o pessoal aqui, tá? Pode me pegar mais tarde?
– Sem problemas, tenho uns DVDs para ver – risos – me leva até o carro?
E ela o leva. No caminho ele repara em uma árvore e para.
– O que foi Edu?
– Eu preciso fazer uma coisa, espera.
Ele procura algo nos bolsos e pelo chão. Então levanta a cabeça e vê uma loja de artigos importados. Pede para Micheli esperar um pouco, vai até a loja, compra um canivete e retorna. Ai ele desenha na árvore as iniciais deles dentro de um coração.
– Pronto! Podemos ir.
– Eu não acredito, ou melhor, não acreditaria se eu não tivesse visto – risos.
– Acredite. Eu sempre esperei o momento certo e a pessoa certa para fazer isto.
Eles se beijam, vão até o carro, se despedem com um sorriso apaixonado e ele vai embora para busca-la logo mais.
Poucas semanas depois Micheli arrumou um emprego em Porto Alegre e eles começaram a morar juntos. Dois anos depois, ao nascer o primeiro filho, eles se casaram. Alfredo continuava solteirão convicto até conhecer a babá do segundo filho de Micheli e Eduardo. A paixão foi mútua e ele a levou para morar na casa de sua mãe, local de onde ele nunca saiu.

domingo, 23 de março de 2014

A irmã do Fredão II

Recomendo que antes seja lido "A irmã do Fredão".


– Cia Viaje bem, às suas ordens.
– Robertinha?
– Eduzinho? Não acredito. Há quanto tempo meu lindo? O que eu posso fazer por ti?
– Qual é o próximo voo pra Brasília?
– Ah meu querido, tem um congresso lá. Só pra semana que vem.
– Tudo bem, falo contigo outro dia então.
– Que pressa, amor. Vamos sair?
– Não vai dar Roberta, estou atolado. Obrigado.
– Brasília? Dispensando a gostosa da Roberta? O que está acontecendo? – perguntou Fredão.
– Nada. Coisa minha.
– Véio, tu estás doente!
– Não amola Fredão!
– Não amola um cactos. O que rolou com minha irmã?
– Pô Fredão, desencarna.
– Qual é véio? Se passou com a minha irmã caçula e pensa que vai ficar assim?
– Tá Fredão! Ok! Eu falo. Rolou sim, mas estou apaixonado por ela.
– Apaixonado uma pinoia. Tu és um galinhão. Quem sacaneia a irmã do melhor amigo é um traíra.
– Pô cara, tu jogaste a Micheli nos meus braços. Ela tá demais e eu gosto dela de verdade.
– Ela é uma irmã pra ti, isto é uma baita sacanagem.
– To te falando que não véio. Eu até dispensei a Roberta, tu viste.
– É sacanagem sim. É sacanagem não ter me contado nada. Vem cá cunhado dá um abraço.
– Bah véio! Tu estavas te arriando o tempo todo?
– Claro – gargalhadas – e tu achas que eu ia perder esta oportunidade de me arriar em ti que é espertão e vive zoando comigo – mais gargalhadas.
– Então tudo bem, eu e a Mi?
– Véio, a Mi é maior de idade. To nem aí, e se meu melhor amigo está apaixonado por ela, fico até feliz. O que estás esperando pra ir atrás dela?
– Não tem passagem.
– Tu irias hoje mesmo?
– Sim.
– O cara tá doente mesmo – gargalhadas – fica frio, não vou falar nada pra ela.
Chegando a noite, Eduardo pega o cartão que a Micheli deu a ele e liga.
– Alô.
– Oi Mi.
– Edu? Que surpresa, tudo bem?
– Sim. Eu queria saber se tu chegaste bem.
– Tudo tranquilo. Cheguei tri bem.
– Que bom.
– Quer me dizer mais alguma coisa?
– Não. Apenas boa noite.
– Pra ti também.
A semana passa e o ímpeto de Eduardo esfria e ele é questionado por Fredão.
– E ai carinha? Não vais atrás de minha irmã?
– Sabe que é Fredão, eu não sou o cara certo pra ela.
– Como assim? E o que rolou entre vocês? Não foi nada? Como ela estará agora?
– Por incrível que pareça, ela estava muito mais preparada pra o que aconteceu do que eu. Ela tinha aquela intenção, e eu nem imaginava.
– Ei meu, estás chamando a minha irmã de piranha?
– Não cara. Deixa de ser preconceituoso. A mulher não pode ter vontade que é piranha? Ela me disse que gosta de mim desde criança, e eu não sabia. Pra ela foi uma oportunidade, entende? Pra mim uma surpresa. Não quero magoá-la. Gosto demais dela.
– To me arriando. Eu sei que ela gosta de ti, eu sempre curti com a cara dela por causa disto.
– E nunca me disseste nada?
– Ué! Ela é minha irmã, né? Eu a protejo primeiro.
– Entendo.
– Tanto que protejo que, toma.
– O que é isto?
– O código verificador da tua passagem.  É pra amanhã cedo.
– Por que fizeste isto?
– Porque tu és um cagão. Se eu não faço, fica neste chove não molha.
– Mas precisamos avisá-la, e se ela tiver que viajar?
– Fica frio. Eu sondei. Ela disse que vai ficar por lá. Faça uma surpresa.
A noite chega rápido, mas a manhã nem tanto. Eduardo não conseguiu dormir. A ansiedade mais a preocupação de como vai enfrentar a situação não o deixou pregar o olho.
Enfim, chega o horário do embarque e ele segue para Brasília. Chegando lá, ele vai para um hotel dar uma relaxada e esperar a noite para fazer a surpresa.
A ansiedade toma conta dele que nunca passou por esta situação, pois para ele sair de Porto Alegre para Brasília só podia estar muito apaixonado.
Então chega o momento. Ele toma um táxi e arrisca ir sem avisar, parando no caminho para comprar flores.
Ao chegar vê Micheli sendo abordada por outro homem que abraça e a beija. Eduardo pede para o taxista não parar e retornar para o hotel. No dia seguinte ele antecipa a passagem e volta para Porto Alegre.
– Ué! O que deu? – pergunta Fredão.
– Maior furada, ela tem outro.
– Não pode ser. Ela não disse nada. Pra minha mãe ela iria falar. Vou ligar pra casa.
– Não Fredão, deixa a dona Alzira fora desta. Esta história já foi longe demais.
– Cara, vais deixar por isto mesmo? Ela gosta de ti. Vai ver ela se envolveu com outro por falta de assistência, o mané.
– Quer parar Fredão! Acabou o assunto. Quer saber? Vou pra casa. Assume a bronca aí.
– Tudo bem. Eu já estava preparado pra trabalhar sozinho mesmo.
– Em nome da nossa amizade tu vais me prometer que não falarás nada pra ninguém. Não se fala mais em Micheli, ok?
– Ok! Eu prometo. O azar é teu, mas tens minha palavra.
Eduardo vai para casa muito desenxabido enquanto Fredão fica pensando:
– Que manezão! Pegou todas as gatas da cidade e agora a minha irmã o fisgou e ele não sabe o que fazer.  Pior que eu também não sei.
Eduardo vai até o parque onde ficou conversando com Micheli, pela primeira vez depois de adultos, e fica lembrando do seu jeito meigo e seu sorriso enfeitiçador.
Ele nunca esteve tão envolvido verdadeiramente por uma mulher como está agora. Lamenta o fato de tê-la perdido por falta de atenção. Entretanto, algo não fecha nesta história. Ele lembra que ela disse que o amava.
– Mas como me ama se em uma semana ela já estava nos braços de outro homem? Não acredito que ela tenha sido sacana de me usar. Era uma fantasia de criança, claro! Deve ter se empolgado, mas depois viu que não sou o cara pra ela.
Então, ele foi para a casa descansar para seguir a vida como sempre foi. No caminho até o carro ele para e fica olhando uma árvore pensando que nunca gravou o tradicional coraçãozinho com as suas iniciais e de uma amada, que naturalmente poderia ser a Micheli. Então pensa em voz alta:
– É! Acho que nunca vou gravar. Bem feito pra ti, Edu.

A foto foi gentilmente cedida pelo integrante da Banda Crazy Horse BRZ,  meu amigo Jorge Vargas.
Para conhecer a banda é só clicar no nome.


domingo, 16 de março de 2014

A chuva, a pizza e o banho

Chove torrencialmente, eu em casa e ela na rua.
Eu caminho de um lado para outro preocupado com meu amor.
Como estará ela entre estes raios e trovões?
Então eu a vejo, toda molhada e despenteada.
Corro para a porta, abro-a e deixo meu amor entrar.
Dou um sorriso e digo:
– Que bom que você chegou, eu estava preocupado.
Ela devolve o sorriso e diz:
– Que tal você fazer uma pizza enquanto eu tomo um banho?
– Um pedido seu é uma ordem.
Eu já sei de cor qual o sabor preferido dela, peito de chester com catupiry e manjericão.
Como sou um cara prevenido, eu tenho tudo em casa.
Monto a pizza muito rapidamente e vou espiá-la no banho.
Este é um show que não posso perder, mas não me julguem. Ela sabe e gosta de se exibir para mim.
Levo meu banquinho e por causa do blindex embaçado vejo apenas sua silhueta.
– Já chegou – disse ela.
– Sim, meu amor. Você sabe que não perco isto por nada deste mundo.
Então ela começa.
Limpa o blidex e desliza o sabonete sobre o seu corpo num show de sensualidade.
– Ai que inveja deste sabonete – eu digo.
– Não fique, sua hora vai chegar.
Eu me deleito com seu sorriso e gestos. Cada movimento demonstra uma sensualidade impar.
Como é linda o meu amor.
A vontade que tenho é de invadir o box com roupa e tudo e abraça-la, beijá-la e etc. Entretanto, além de carinhosa e sexy, ela é também sádica, porque adora me torturar, pois basta eu ameaçar invadir, ela diz sorrindo:
– Não se atreva.
Ela sabe que com este sorriso ela consegue o quer de mim. É uma arma mortal a qual ela usa com plena maestria.
Finalmente ela sai do banho. Ignorando a toalha, senta no meu colo me molhando todo e me rouba um beijo gostoso, que eu já devia estar acostumado, mas cada dia é outro dia e cada beijo é outro beijo.
Daqui para frente faço a pausa. Deixarei vocês curiosos.
Algum tempo depois...
Voltei apenas para responder a pergunta que sei que não quer calar.
A Pizza? Sim, estava deliciosa, mas acho que desta vez ela foi secundária.

Esta é uma obra de ficção, qualquer coisa diferente fica além da sua imaginação. 


domingo, 9 de março de 2014

Racismo, diga: TO FORA!

Eu já tinha um post pronto e agendado para hoje, mas devido aos últimos acontecimentos acho que tenho que falar alguma coisa, mesmo que já tenha abordado este assunto em Cotidianos – Preconceito punido B.U.E.S.T.A.
E hoje, diferente das outras vezes, não vou arrumar paliativos para palavrões devido a tamanha seriedade do assunto.
Todo árbitro de futebol tem duas mães, a que eles veneram, respeitam e amam, que são aquelas que ficam em casa rezando para que dê tudo certo para eles, e tem as putas, que são as que eles levam para dentro do campo. Entretanto, etnia é uma só. Portanto, é desumano chamar um árbitro de macaco só porque ele é negro. 
Chamar de filho da puta, mesmo que ele não tenha feito nada de errado, embora não seja nada respeitoso, faz parte do folclore do futebol. Afinal, tanto faz o juiz ser branco, negro, indígena, nipônico e etc, ele sempre será um filho da puta. Porém, associá-lo a um animal por causa de sua cor de pele é racismo e isto é crime.
Eu comento isto, porque esta semana um senhor negro, o Marcio Chagas, que apita no campeonato gaúcho, foi xingado de macaco, seu carro depredado e sujo com bananas. Isto vai além do futebol. É a perda total da razão e nada tem a ver com todos os erros que uma pessoa possa ter cometido.
Um juiz, como qualquer profissional, deve ser julgado pelo seu desempenho e nada mais do que isto.
Embora eu considere o Márcio um péssimo juiz porque já beneficiou o rival do meu time, que todo mundo sabe é o Internacional, mais de uma vez e com isto eu o ter xingando muitas vezes de filho da puta, ele tem toda minha solidariedade, porque como eu disse acima, ele deve ser xingado, mantendo a tradição é claro, pelos erros que cometeu e não pela sua origem étnica.
Os jogadores Arouca, esta semana no interior paulista, e o Tinga, poucos dias atrás no Peru, também sofreram o mesmo tipo de preconceito. Do Arouca eu acompanhei pouco e é um jogador que não tenho muito conhecimento, mas o pouco que sei, é um exemplo de atleta. Já o Tinga, apesar de ter crescido nas bases do rival, jogou no meu time duas vezes e se tornou um ídolo da torcida colorada e todos sabem que é um exemplo de dedicação.
No entanto, a questão aqui não é se o Marcio, Arouca e Tinga têm bom caráter ou não e sim que são seres humanos e ninguém tem o direito de julgá-los pela cor da pele.
Até mesmo um negro criminoso e assassino não pode ser chamado de macaco, pois se fosse não estaríamos ofendendo a ele, que merece todo o tipo de escorraça, e sim toda comunidade negra que nada tem a ver com os crimes de uma pessoa que é de índole ruim e não porque é negra.
Como eu disse outras vezes, há muitos bandidos loirinhos de olhos azuis.
Infelizmente, atos de racismo, que nada tem a ver com educação, pois se tivesse seria “mais fácil” combate-los, estão espalhados no mundo todo.
E o mundo precisa de mais atitude e menos papo. Isto inclui punições mais severas aos agressores ou interromper o espetáculo.
Já pensou se quando um atleta é xingado, todos os outros sentassem no campo até que as agressões terminassem?
Deixando o mundo e o Peru de lado, se não este post não terminará nunca, quero me resumir aos atos que estão virando rotina no futebol brasileiro.
Quando uma torcida faz uma gracinha com um árbitro ou jogador negro esquece que o maior jogador da historia mundial é negro e mesmo que tenha parado de jogar há quase 40 anos, o Pelé ainda é lembrado pelas suas jogadas e não pela sua raça, e também, jovens que nunca o viram jogar o admiram.
O que eu posso dizer para estes boçais que fizeram tais ofensas e também para aqueles que são racistas ou preconceituosas por qualquer motivo é que, ao contrário do que se acham, estes atos os colocam em uma classe fétida e inferior e que são os verdadeiros filhos da puta.

Sou branco, de família branca. Poderia fazer piada de tudo isto, ou não tomar conhecimento, pois não é “no meu”, mas eu sinto vergonha quando acontece uma coisa como esta.

“Eu trocaria todos os meus títulos por igualdade entre as raças”
                                  Paulo César Fonseca do Nascimento (Tinga)

domingo, 2 de março de 2014

Minhas azeitonas e o Rei

Eu tenho pouca restrição para comida.
Gosto de muitos pratos.
Os meus preferidos são Kibe, Lasanha, Strogonoff e Pizza.
Não gosto de Ervilhas nem de Azeitonas, a primeira ainda passa. Se tiver misturada na comida e não for muito, eu até como, mas a segunda, eca! Acho horrível. Quando inteira eu tiro de lado e mando ver, mas se quiser estragar meu paladar é só picar azeitonas e colocar em uma comida deliciosa como as citadas acima. Basta eu pegar um pedacinho, mesmo que minúsculo, naquele lugarzinho específico da língua que eu largo tudo e vou comer um sanduba, se é que vou comer alguma coisa.
As experiências não muito boas que eu já tive com este frutinho amargo e que me repugna, vou compartilhar com vocês, queridos leitores.
Na minha fase pós-adolescente* em uma das jantas que fui na casa de um grande amigo meu, o Aloísio, a querida mãe dele, Dona Alice, quem eu tenho o maior respeito, amor e admiração, fez pastéis. Eram tão suculentos que só de olhar já era o suficiente para babar. Eu peguei um e fui com tudo. Infelizmente mordi junto uma azeitona, cujo pedaço veio justamente para o lugar indesejado da língua. Fui do sonho gastronômico ao pesadelo. Tomei o copo inteiro de refrigerante para aliviar aquele desprazível sabor.
Ela percebeu a minha indelicadeza, mas o que fazer, foi mais forte do que eu. Pedi desculpas, mas como ela é um doce de pessoa, ainda ficou preocupada comigo e disse:
– Eu as coloquei inteiras. Isto ajuda?
– Claro! – respondi feliz. Cutuquei com garfo e tirei a intrusa, ou o que restou dela. A partir daí, passei a dar uma mordidinha de leve para localizar as alienígenas e tirá-las dos meus deliciosos pastéis. É lógico que não faltaram doidos para pegarem as indesejáveis do meu prato.
Uma das vezes que viajei a trabalho, pela extinta Vasp, na hora do lanchinho que parecia muito apetitoso, eu abocanhei o sanduíche. Azar o meu, pois estava cheio de azeitona picada. Não tinha nem como tirar. Estava tudo grudado na maionese. Larguei tudo e não comi mais nada. Eu queria saber o que passou pela cabeça da pessoa que preparou ou fez o menu. Nunca tinha visto isto. Não era nada normal colocar azeitonas picadas em sanduíche, e logo de avião. É! Naquela época eles davam lanches e dependendo do horário até almoço e jantar e só desta vez dei de cara, ou de boca com as peçonhentas.
A última péssima experiência que vou contar não foi tão grave porque vi antes. Na casa da prima da minha esposa, em Cafelândia - SP, uma senhora, amiga de minha sogra, se ofereceu para fazer uma receita com costela de gado. Eu já estava contrariado porque como sou gaúcho, costela eu como quando quiser, e digo mais, não é das minhas favoritas. E ainda por cima, a prima faria um salmão delicioso cuja receita ainda não tive oportunidade de provar. Porém, fazer o que? Não sou egoísta e a maioria queria a costela. Logo, o meu salmão bailou. Em uma das passagens pela cozinha eu vi a senhora abrindo um pote de azeitona e minha reação foi imediata.
– A senhora vai colocar azeitona?
– Só na farofa, por quê?
– Porque detesto – respondi na lata.
– Não tem problema eu tiro óleo.
Então, antes de qualquer indagação da minha parte, ela espremeu as meliantes largando o suco na pia e as jogou dilaceradas na panela.
Piorou – pensei – agora não conseguirei localizar as facínoras. Não sei o que ela pensou. Que parte de: “Eu detesto” ela não entendeu? É claro que da farofa eu fiz questão de não sentir nem o cheiro.
Bom! Eu contei tudo isto até agora para que vocês além de saberem que eu odeio azeitonas entendam o meu ponto de vista sobre o comercial do Roberto Carlos, cujo cantor eu reconheço a majestade, mas não pertence ao meu “idols´s club”.
Eu entendo que o comercial ficou esquisito para caramba e que a cara de nojinho do Rei ficou muito evidente, mas gente, o cara não pediu para fazer. Com certeza ofereceram a ele uma baba. E não sejamos hipócritas! Quem não queria estar no lugar dele ganhando uma alta grana para promover um produto mesmo que não gostasse?
Azar é do fabricante que deu esta bola fora.
Certamente alguns dirão: “Ele é podre de rico e não precisava disto”. Será? Assim como eu preciso de R$ 20.000 para trocar de carro, ele pode precisar de milhões para trocar de iate. Cada um vive com o seu luxo e suas limitações e explora as oportunidades que lhe aparece.
Se quiserem me dar 10mil para fazer um comercial de azeitonas, eu como todo vidro, não faço cara de nojo e ainda digo sorrindo "que diliça" . Imaginem milhões.

* Pós-adolescente – Nem sei se este termo existe, mas costumo usar para representar aquela época que a gente sai da adolescência e ainda não se considera um adulto. É entre 18 e 19 anos.