domingo, 24 de novembro de 2013

Verão chegando

Fumacentos
Estamos praticamente a um mês do verão e como é de praxe, em cidades litorâneas, os veranistas chegam para a preparação de um delicioso veraneio na sua aconchegante casa de praia. Logo, inicia-se um ritual com limpeza, as vezes pintura, e como não pode faltar o corte da grama. E é justamente sobre isto que eu quero falar. Alguns contratam profissionais para este serviço. Estes levam a grama embora e jogam em algum lugar apropriado. Beleza! Outros resolvem eles mesmos curtirem a aventura e depois, acumulam a grama em um canto, ou colocam na churrasqueira, esperam secar e tacam fogo. O pior é que tem gente que nem espera secar fazendo com que sua fogueirinha crie mais fumaça. O que este pessoal não se dá conta, ou é filho de uma mãe profissional do sexo e se dá, é que a maldita fumaça vai para algum vizinho que nada tem a ver com isto. Há pessoas com alergia, com asma, bronquite e etc. E não só isto, o cheiro incomoda demais. É um absurdo. “Entretanto, para que eu vou me importar com a minha fumaça, né? O vizinho que se ferre. Quero resolver o meu problema e me livrar do capim”. Pois é, já procurei alguma lei que proíba isto, mas não achei. Se alguém puder me ajudar eu aceito, apesar de que as prefeituras fazem vistas grossas.
Eu odeio fumaça, e não falo de churrasco cujo cheiro é diferente, é tortura, mas é gostoso. Agora, capim, folha seca e papel velho ninguém merece.
Então, faço um apelo a você que é apenas descuidado e não um filho de uma mãe sexualmente ativa com vários parceiros por dinheiro, que não ponha fogo no capim e assemelhados. Coloque em sacos e deixe para o lixeiro levar. Lembre-se, capim cortado não é poluição, queimado é, e das bravas.

Caninos
Há pessoas, que no veraneio, ao verem os cães de rua rondando a sua casa por sentirem o cheiro do churrasquinho, ficam com pena e os adotam. Tratam, dão carinho e comida, mas quando acaba o verão largam os bichinhos na rua novamente e vão embora. É melhor que os deixem na rua para aprender se virar. Pois criam vício nos coitadinhos que depois ficam perdidos e muitas vezes morrem. Pior ainda se forem filhotes, pois estes ainda não têm o instinto vira-lata. Não estou dizendo para não dar comida e nem água. Podem fazer este ato humanitário, ou melhor “caninitário”, mas não os adotem se não tiverem a intenção de levá-los consigo. Deixe um pratinho com comida e um potinho de água do lado de fora. Assim eles se viram pela rua e não terão o gostinho de ter tido uma família e depois serem abandonados.
Ainda tem aqueles filhos de uma mãe trabalhadora na zona, que cansados de seus amigos fiéis, os deixam na praia achando que terão mais chance de sobreviver. A estes burros e desalmados, eu aviso, que seu cão não tem a mesma resistência que um cão de rua. Logo, se você ama seu cachorrinho, mas não pode mais ficar com ele, procure uma ONG ou alguém que queira. Nas ruas há terrenos baldios com muitas bactérias, pulgas e carrapatos que matarão seu amiguinho por falta de tratamento, sem falar que, por não estar acostumado a andar solto, ele pode ser atropelado ou ser muito machucado em uma briga de cães que andam em matilhas e são territorialistas.
Abandono de animais é crime. Lembre-se disto.

domingo, 17 de novembro de 2013

Encontro no aeroporto - Final


Desde o dia da despedida no aeroporto, Lívia e Fernando não se viram mais.
A instalação de telefones ficou mais acessível pelo aumento da qualidade das operadoras naquela época. Entretanto, os contatos foram diminuindo. Como Fernando estava casado, não poderia telefonar, tão pouco  receber ligações em casa, mas eles tinham o número um do outro para alguma emergência.
Todos que conheceram a história deles, nunca entenderam porque não ficaram juntos. Poderia ser a falta de coragem ou alguém ter dado o primeiro passo. A grande verdade é que ambos eram muito jovens e não quiseram largar tudo que tinham e mudar para uma cidade estranha passando a conviver com alguém que conheciam apenas por carta ou telefone. Os momentos juntos foram muito restritos e eles tinham a consciência de que apesar de deliciosos não eram o suficiente para se arriscarem com os compromissos do dia a dia de uma vida.
O casamento de Fernando não vingou. Ele jamais esqueceu Lívia.
Outros negócios fizeram ele voltar a cidade dela. Tentou um contato, mas ela não quis encontrá-lo. Alegou que estava em um relacionamento fixo e promissor e não queria arriscar-se por uma aventura. Ele não teve tempo de dizer que estava separado e, apesar da notícia ter sido um choque, entendeu e não a procurou mais.
Durante 20 anos, Fernando sempre ficou com as lembranças daquela única noite de amor. Ficava se perguntando como estaria ela. Pensava em ligar, mas desistia.
– O telefone não deve ser mais o mesmo. Ela deve estar casada.
A dor dele era ainda maior porque sua empresa havia sido vendida para uma multinacional e ele transferido para a mesma cidade de Lívia e com isto a sua tortura aumentava por estar bem mais perto e não poder fazer nada.
O que ele não sabia é que Lívia havia tentado um contato por telefone, e claro aquele número já era de outra pessoa. Então, ela enviou uma carta.
A carta só não foi devolvida porque o casal que morava na casa percebeu que Fernando era o antigo morador. Portanto, entregaram a mesma para imobiliária que administrava o imóvel que por sua vez levou-a para os pais de Fernando.
Em uma de suas vistas a seus pais, Fernando recebe a carta e fica intrigado com o que lê.

Fernando,

Espero que esteja bem.
Não quero atrapalhar sua vida, mas por favor me ligue.
O número é ainda é o mesmo.
É urgente.

Lívia.

Ao ler a carta, desejou ligar na mesma hora, mas pensou que seria melhor falar depois que retornasse de viagem.
E foi o que fez.
– Lívia! Sou eu Fernando.
– Fernando – com voz trêmula – há quanto tempo?
– Pois é! Como estás? O que queres falar?
– Eu tentei te ligar, não consegui, por isto mandei a carta. Espero que eu não tenha te atrapalhado, mas é muito importante.
– Estou separado há muito tempo. Não atrapalhou nada, e você? Casada?
– Isto não importa agora. Eu preciso de um favor.
– Pode dizer.
– Uma pessoa vai te procurar. Escute tudo o que ele tem para te dizer. Por favor, trate o bem. É meu filho. Eu não estou mais em condições de falar.
– Espere! Eu estou morando na mesma cidade. Eu posso te ver.
– Que ironia. Tão perto, mas não quero, entenda. Dê o novo endereço.
Dois dias depois o filho de Lívia procura por Fernando e eles se encontram. A surpresa foi tão grande que o rapaz de quase 20 anos além de também se chamar Fernando era muito parecido com ele. E de fato, era seu filho. Lívia o escondeu para não atrapalhar a vida de Fernando. Porém, revelou a verdade porque estava muito doente e queria corrigir o erro que permaneceu cometendo durante todo este tempo. O filho sempre cobrou da mãe notícias do pai e ficou sabendo quem era apenas quando ela ficou enferma.
Fernando não sabia se ficava feliz pelo filho ou triste por saber que a pessoa por quem ele nutriu 20 anos de um amor sufocado estava muito doente. Logo agora que o encontro era mais possível, pois estavam mais maduros e sem compromissos que os atrapalhavam e ainda descobriu um forte elo para toda vida, Lívia poderia estar a beira da morte. Fernando, após se recuperar rapidamente do choque, abraça o seu filho e diz que nunca mais ficará longe dele. E ainda diz que não se conforma com a doença de Lívia e que vai ajudar.
O orgulho de Lívia nunca permitiu que ela pedisse ajuda a Fernando. O seu relacionamento, que ela falou 20 anos atrás, também não durou e ela criou o filho sozinha com muita dificuldade.
Neste momento da vida, Fernando estava bem financeiramente. Assim, ele conseguiu pagar um tratamento de saúde para Lívia dando a ela mais chances de recuperação.
Enfim, casaram!
Viveram juntos por 8 anos. Então, Lívia faleceu.
Fernando e o filho tiveram uma relação mais de amigos do que de pai para filho.
Fernandinho, por obra repetida do destino, conheceu uma moça no aeroporto e casou-se com ela dando a Fernando um casal de netos.

domingo, 10 de novembro de 2013

Encontro no aeroporto - o retorno.

Enquanto Fernando aguardava a decolagem e pensando no beijo que poderia ter dado, Lívia retornava para a casa com lágrimas nos olhos por um sonho não realizado.
Dias passaram e o contato continuou. A troca de cartas voltou e os telefonemas diminuíram.  Lívia não fazia declarações de amor, mas deixava parecer que quando se encontrassem de novo ninguém os atrapalharia.  Fernando sonhava com este momento.
Um dia surgiu uma nova possibilidade de se verem em outra conexão que Fernando deveria fazer na mesma cidade. Entretanto, as trapalhadas do controle aéreo impediram o encontro. Lívia ficou no aeroporto esperando em vão com os olhos lacrimejados e Fernando saiu de um avião direto para o outro com um aperto no coração. 
Não tiveram nem chances de se verem à distância.
Deitada ali, trêmula de um frio que não vinha da janela aberta, corpo desnudo envolto numa fina camada de saudade e em belos lençóis de mil flores coloridas, por entre os lábios entreabertos escorria um fiapo de sorriso misturando-se ao cor de rosa já manchado do seu batom. Os traços de sua face mesclavam-se no que em palavras não pode ser descrito, mas há quem diga que trazia um ar de pura melancolia escondido pelo rubro sangue que lhe tingia, sem pudor, as maçãs do rosto. Nos cabelos escondia a noite que por sua vez inundava o travesseiro como um rio interminável, com ares de sonho, num tímido resplandecer de astros. Por trás das pálpebras cerradas ia escondendo seu olhar de chama e o reflexo estampado dos desejos.
Desejos que não pode realizar. Outrora lhe faltou coragem, agora oportunidade, mas finalmente surgiu o dia que eles se encontrariam outra vez.  Desta vez os negócios de Fernando eram na própria cidade de Lívia.
Ela já esperava a aeronave pousar. Ele impaciente com a mala que não aparecia na esteira.
Enfim o reencontro.
O beijo aconteceu. Foi um beijo doce e tranquilo como um marido chegando do trabalho e cumprimentado carinhosamente a esposa.
O compromisso de Fernando não lhes permitiu mais tempo. Ficou tudo para a noite.
E a noite chegou.
Foi um jantarzinho romântico sem muita sensualidade. Os dois aguardavam tanto por aquele momento que estavam com vergonha um do outro, embora a vontade estivesse explodindo pela pele de ambos.
Passearam de mãos dadas, trocaram beijos e abraços e então foram para o hotel de Fernando.
Ao chegarem, deixaram romantismo do lado de fora da porta. A sede de Fernando por Lívia e vice-versa passou por cima de qualquer etiqueta, ética e padrões da sociedade. O que interessava naquele momento era o desejo ardente que um sentia pelo outro.
O deslizar imaginado e sutil daquelas mãos ia sentindo-se queimar, mas sem arder, fazendo-se paixão. 
Ora esquecia-se do ar, outrora o tomava de uma só vez.
Ela deixou de lado o sorriso e entreabriu os lábios para um beijo profundo até a alma sentir-se beijada, até sair e voltar de si e roubar-lhe o ar, até desfalecer de uma só vez e poder por fim revelar, sem pudor, no dilatar das pupilas a urgência de se entregar.
Ele queria sentir a febre daquele toque na sua pele, desmanchar-se entregue aqueles lábios e mãos, do roçar a nuca, de beijar os seios, o ventre e encaixar as coxas nas suas, do sussurrar de segredos lindos e indecentes, do cravar os dentes, as unhas, dos gemidos e suspiros
Amaram-se como dois amantes que não se viam há anos.
Entregaram-se um ao outro liberando o desejo reprimido do primeiro encontro.
Lívia não poderia ficar a noite toda, pois sua vida pessoal não lhe permitia. Fernando dormiu sozinho com uma sensação de vazio.
No dia seguinte, novamente a despedida no mesmo fatídico aeroporto. Porém, desta vez, apesar da saudade que já surgira, as lágrimas, a tristeza e aquela sensação de arrependimento por não terem avançado além de suas fantasias foram trocados por um sorriso.
Após este dia, apesar de não terem ficado juntos, a vida de ambos nunca mais foi a mesma. Lívia separou-se e tocou sua vida independentemente enquanto Fernando rompeu com a noiva e casou-se com outra pessoa.
Há quem aposte que quando eles se encontrarem novamente todo o passado será revivido, mas isto é estória para outra hora, ou para outro aeroporto.


PS: Os trechos com a fonte escura, eu peguei emprestado da obra "Refém por querer" da minha querida amiga escritora Mayra Borges do blogue Era outra vez: Amor, que eu recomendo.

domingo, 3 de novembro de 2013

Encontro no aeroporto


No início dos anos 70 uma carta chegou erroneamente à casa de Fernando. Procurou o destinatário, mas em vão, pois nas redondezas em que residia, ninguém conhecia a pessoa que deveria receber a correspondência.
Achando que era obra do destino, abriu o envelope e verificou que havia uma foto de uma linda jovem. O texto continha palavras amáveis que o comoveram.
Após ler a carta várias vezes, ele não hesitou em responder explicando a situação e comentando que tinha achado tais palavras muito bonitas. Então, pediu para se corresponder com a autora, Lívia que, prontamente, achando interessante, passou a comunicar-se com ele.
As cartas eram freqüentes e, por elas, a troca de carinho foi aumentando. Um era o ombro do outro devido aos problemas individuais que enfrentavam.
A vontade de se conhecerem era enorme e aumentava a cada dia. A possibilidade de telefonemas era remota, pois ambos não tinham telefones. Naquela época a telefonia não dispunha de muitos recursos e tecnologia.
Lívia era casada e Fernando noivo, mas eles tinham algo em comum, a infelicidade. O casamento de Lívia estava em decadência já há algum tempo. Não tão menos decadente estava o noivado de Fernando cujos princípios não o permitiam que desse fim ao compromisso devido à relação dos familiares.
Apesar do controle de ligações telefônicas que tinha na empresa, onde Fernando trabalhava, surgiu a primeira ligação. Ele conseguiu ligar para um comércio onde Lívia tinha relações de amizade. Ela havia enviado uma carta com uma semana de antecedência avisando que lá estaria na hora marcada. Com muito carinho eles se trataram, mas não fizeram promessas. O compromisso de cada um parecia um empecilho para sonhar mais alto.
As cartas já não eram mais suficientes. Eles precisavam ouvir um ao outro, então os telefonemas aumentaram.
Um dia chegou a oportunidade de se verem. Em uma das conexões aéreas que Fernando fora obrigado a fazer na cidade em que Lívia morava, marcaram um encontro. Ele aguardava no restaurante do aeroporto, enquanto ela para lá se dirigia. Seus passos eram rápidos em meio a tanta gente naquele lugar. A ansiedade era evidente e as pessoas entrecruzavam seu caminho impedindo-a de chegar mais rápido. Tanto tempo ela esperou por aquele encontro. Enquanto andava, seus pensamentos levavam-lhe a lembrança das cartas trocadas. Eles se conheciam há tanto tempo, foram tantas confidências compartilhadas, tantos beijos sonhados.
Enquanto se aproximava do local de encontro seu coração batia muito depressa e ela pensava em seu íntimo:
– Será que terei coragem?
Fernando olhava o relógio a cada instante se perguntando:
– Por que ela não aparece? Onde andará? Dará tempo?
Ela subia as escadas às pressas. Passou por um corredor que nem era tão grande, mas que parecia interminável até que, ao longe, o viu sentado a uma mesa. Os passos aceleraram ainda mais, até estarem frente a frente. Abraçaram-se como amigos que querem ser amantes e uma tímida conversa iniciou. 
A música era suave e Lívia meio à distância podia sentir o perfume dele. Ele não teve dúvidas de que ela era a mais linda e interessante mulher que já viu na vida.
Em vários momentos ensaiaram um beijo, mas estavam presos às convenções. Compromissos assumidos anteriormente os impediram de liberar tanto desejo.
Olhos curiosos não os deixaram à vontade. Parecia que todos os presentes percebiam que seus sentimentos estavam para explodir e eles só tinham olhos um para o outro.
Deram-se as mãos, conversaram, olharam-se com muito carinho, mas a lembrança do que os esperava em casa, impediu de terem maiores intimidades.
Não se sabe quanto tempo passou. Não deve ter sido muito mais do que uma hora até ouvirem aquela voz feminina no autofalante anunciando o voo de Fernando.
Mal se conheceram pessoalmente e a despedida era inevitável. Porém, bastaram alguns instantes para saber da importância de um na vida do outro.
Caminharam até o local de embarque. Os corações pulsavam fortemente enquanto pensavam nos beijos que gostariam trocar e promessas que gostariam de ter recebido. Entretanto, apenas um abraço muito forte aconteceu. Abraçaram-se como quem não vai mais se ver. Eles não queriam mais sair dali, mas a voz insistia para que se apressassem.
Ela ficou parada, acenando, vendo seu amor partir. Não teve coragem de fugir das regras e convenções ainda que por um único beijo. A distância aumentava e ele levava consigo o gosto de um beijo que nunca foi trocado.  E ela ficou ali com as lágrimas correndo. Seus lábios carentes com o gosto de uma despedida doída. Seu amor partia e ela o via ir embora, como quem olha a vida através de uma janela.
Como já era costume, juntaram seus próprios pedaços porque a vida os esperava. O tempo não para, e eles tendo que continuar sem ao menos parar pra chorar sua dor, voltaram a suas rotinas.