sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Fim de ano



Sensação esquisita chegar ao final de um ano, olhar para trás, e verificar que mais da metade das coisas que planejamos não foram realizadas.
Decepção?
Que nada!
Pois, se continuarmos olhando para o passado recente veremos que fizemos muito mais coisas que não planejamos.
Então, para que planejar?
Vamos deixar rolar.
Planos são para o dia a dia do trabalho onde temos metas para cumprir.
Na vida pessoal, é importante ter uma visão do que precisamos e queremos fazer, mas improvisar também é bom, pois quebra a rotina e deixa a vida mais gostosa.

Nesta época do ano, muitos ficam mais sensíveis, tristes por se lembrar de pessoas que se foram e de outras que estão longe.  Entretanto, só sentimos saudades de quem gostamos. Logo, é importante se lembrar com carinho e amor.
Saudade é um sentimento que dói, mas é bom.

No fim de ano é hora de renovar as esperanças, confiar muito no ano novo.
Portanto, vamos acreditar.
Temos que pensar em um emprego melhor, ou melhorar o atual, se apaixonar ou manter-se apaixonado.
É um período que queremos lembrar só do que foi bom.
Só não podemos esquecer os erros para não repetí-los.
O que importa é se deixar contaminar pela alegria e pela esperança de que coisas melhores virão.
Lembrar com carinho das pessoas amadas que não estão mais aqui e curtir as pessoas amadas que fazem parte das nossas vidas.
Não perder a fé em nós mesmos e sempre acreditar que podemos fazer a diferença.
Então, vamos “nos desinstalar”, ou seja, sair da ostra e correr atrás.
Dá para chegar é só acreditar.

FELIZ ANO NOVO!

sábado, 22 de dezembro de 2012

O novo Natal de Nicolau


Quando disse em minha primeira postagem, O início, que meu blogue não tem proposta, eu me referi ao tipo de assunto. Na verdade, a proposta deste meu mundinho literário é de textos, mas hoje eu vou abrir uma exceção. 
Este áudio, que posto aqui, é a gravação fidedigna de uma estória que criei para participar de um evento promovido, em 2008, pela empresa onde eu trabalhava. 
O tema foi Natal e a regra básica era para enviar textos que representavam mensagens natalinas e só poderiam participar textos de domínio público ou criações próprias.
Eu criei uma estória e enviei.
Os premiados tiveram seus textos gravados pelos ledores do Rio de Janeiro e ganharam um CD com todas as mensagens.
Eu ganhei, mas para minha surpresa, deixaram a minha estória sem autoria.
Ao telefonar para a responsável pelo evento e questioná-la ouvi a resposta:
– Ah Claudio! Nós não sabíamos que o lindo conto do Nicolau era teu. Foi o melhor de todos, inclusive o ledor que fez o personagem chorou. 
Bom! Levando em consideração que acharam o meu conto tão bom a ponto de não acreditarem que eu poderia tê-lo escrito, posso considerar isto um grande elogio.

Para ouvir, é só clicar na bola laranja com flecha branca. Pode demorar alguns segundos para carregar.

Espero que gostem e desejo a todos um FELIZ NATAL. 



domingo, 16 de dezembro de 2012

Peregrinação dentária




Eu não sei por que a palavra dentista, em muita gente, causa tremores, suor e arrepios. 
Tenho primos dentistas, todos ótimos, e minha dentista particular, a Fernanda, é espetacular. É tão espetacular que eu consigo dormir enquanto ela me trata. 
Entretanto, a maioria das pessoas tem um medo horripilante que só se tratam em último caso. Elas esquecem que os dentistas são pessoas normais. Eles são muito normais que até medo têm de irem ao dentista.
Eu tenho um amigo muito azarado, o Little Paul, que ao comer uma coxinha de galinha mordeu algo duro e quebrou o dente que ficou pendurado. Ele foi ao consultório de sua dentista que fica na mesma cidade em que mora, mas em virtude da agenda cheia, ela não pode atendê-lo e marcou um encaixe para mais tarde. Como ele estava agoniado, com muita dor e o dente entre meio preso e meio solto, não quis esperar. Assim, foi a um pronto socorro dentário na capital onde foi atendido com uma limpeza e medicamentos.  Os doutores no plantão aconselharam-no a procurar um cirurgião para extrair o dente porque esta cirurgia não poderia ser realizada no local, pois o mesmo não era apropriado para isto. Então, o meu amigo procurou um cirurgião, mas nenhum deles que contatou tinha horário para emergência. Ele não desistiu e continuou exaustivamente procurando até que conseguiu uma consulta com um dentista em sua cidade. O Doutor pediu para que ele fizesse um raio X em outro local porque o seu aparelho estava quebrado.  Little Paul desistiu e foi para o pronto atendimento regional. Quando ele achou que ia ter seu dente extraído e o alívio tão sonhado, sofreu uma decepção maior que a sua dor. Sua pressão estava 14x10 e os plantonistas lhe negaram a extração. Indignado, ele correu para casa, entrou rapidamente, foi até o banheiro – ups desculpe, toalete é mais fino – abriu a portinha do armário violentamente e pegou o fio dental. Calma gente, ele não foi se enforcar, apenas enrolou o fio no dente pendurado e puxou com força fazendo ele próprio a cirurgia tanto sonhada sem gastar um tostão.
No dia seguinte ele contou sua aventura reclamando que era mais fácil contratar um matador de aluguel do que uma hora no dentista. Pensei que ele teria contratado um para “apagar” os dentistas que o fizeram sofrer, mas felizmente era apenas uma metáfora.
A saga de Little Paul não termina aqui.
Para não ficar desdentado, ele passou a procurar uma clínica especializada em prótese. Desta vez foi mais fácil. Ele marcou a consulta com facilidade, mas quando foi atendido sofreu outra decepção. Soube que tinha ficado um pedaço da raiz e que ele não poderia fazer o implante sem que a mesma fosse extraída. 
Começaria toda a peregrinação dentária novamente?
Estaria ele disposto a fazer a via sacra odontológica?
Não! Desta vez ele seria atendido prontamente. Sua heroína, a superdentista estava a sua espera. Epa! Eu disse seria? Xiii! Pois é, devido a uma inflamação no local, ele precisou tomar antibiótico por 10 dias.
É, Little Paul. A brincadeira com o fio dental lhe custou caro.
Somando a gasolina, passagens de ônibus e do Catamarã(*), consultas, remédio, ligações telefônicas do pré-pago e os 20cm de fio dental dá o valor do churrasco do fim de semana com carne nobre.
Depois de todo o sofrimento e custos já contabilizados, Little Paul finalmente foi resolver o problema dos restos dentais uma vez por todas.
Chegando a consultório...
– Olá eu tenho um consulta com a doutora Maria.
– Sabe que é. A doutora precisou sair urgente.
– Ah não! O que houve?
– Ela comeu uma coxinha de frango, quebrou um dente e tá procurando um dentista.

(*) Catamarã – Barco que faz a travessia no Rio Guaíba entre Porto Alegre e a cidade de Guaíba.
(**) Um abraço a todos os dentistas que cuidam da nossa saúde dentária e lembrem-se que eu os elogiei.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Dia Internacional do Barrigudinho



Eu sei que já insisti, enchi o saco, enviei por e-mail e publiquei no Facebook, mas eu não tinha blogue, logo não seria justo que a minha maior criação, em minha opinião, é claro, ficasse de fora do meu espaço virtual literário. Então para quem não leu ou para quem quer ler de novo segue a história da criação e o texto do Dia Internacional do Barrigudinho.

Muitos de vocês devem ter lido um texto parecido com este tema em algum lugar da internet. Apesar de ter sido publicado sem autoria, tem dono. É criação minha. 
Este tema eu criei durante a festinha de aniversário do meu filho, na minha casa de praia em 1993, fazendo uma brincadeira com meu amigo Eduardo, que gosta muito de uma cervejinha, e naturalmente, tem uma calosidade abdominal até hoje. Porém, eu nunca tinha idealizado.
Quase dez anos depois, em 2002 entre outubro e novembro, com tanto dia disto, dia daquilo, e também com a musculatura abdominal mais desenvolvida, resolvi passar a ideia para o papel. Bolei o texto abaixo e escolhi o especialmente dia 6 de dezembro porque o número 6, além de ter uma barriguinha, naquele ano caiu numa sexta-feira. Eu também precisava de tempo para o e-mail circular e fazer a divulgação necessária da santificada data.
O e-mail rodou bastante, pois eu o recebi de volta mais de uma vez.
No ano seguinte editaram o texto, mudaram a data para 5/12, trocaram o tema para Dia da Barriga e etc. E foi este o e-mail que circulou por algum tempo, mas com bem menos ênfase. Com a febre de blogues, este texto foi parar em muito deles sem o crédito devido.
Outra alteração que fizeram foi a inclusão da gravura do Homer Simpson que não fazia parte do projeto original. Eu até gostei desta ideia, pois sou fã do Simpson, mas este personagem é da Fox e respeito os direitos autorais. Então, como resolvi editar o Dia Internacional dos Barrigudinhos pedi ajuda ao meu amigo de infância cartunista e caricaturista Marcelo Lopes de Lopes, o M2Lopes, para criar o mascote Joca Pançudo que é o símbolo desta campanha.
Na tentativa de recuperar os créditos, pedi para os amigos compartilharem no Facebook e entrei em contato com alguns donos de blogues onde o tema estava publicado. Apenas dois blogues me responderam e me deram a autoria.
Como sou brasileiro e não desisto nunca, segue o texto...

Dia Internacional do Barrigudinho – 6 de Dezembro
Você homem, que está cansado de lutar contra a balança, quando se olha no espelho e vê aquela barriguinha e morre de inveja do vizinho que gosta de cortar a grama sem camisa todo peladão exibindo o abdômen bem definido, bíceps etc. Não fique triste!
Lembre-se de quantas cervejas e guloseimas ele evitou.
E tudo isto para que? Para ficar na frente do espelho se achando o gostosão.
Chega de “bichice”!
O mundo inteiro sabe que quem gosta de homem bonito são os gays(*).
Mulher quer homem inteligente, carinhoso, fofinho e compreensivo.
Por isto que para homens como você foi lançado o Dia Internacional do Barrigudinho.
Chega de ter a consciência pesada após beber aquela cervejinha, aquela Coca-Cola tradicional, comer aqueles petiscos.
No dia 6 de Dezembro vamos à forra. Vamos lotar os barzinhos, pizzarias, pastelarias, restaurantes em geral. Vamos derrubar todas as cevas, Coca-Cola, caipirinha. Comer aquela feijoada, macaxeira, charque, coxinhas e torresminhos. Vamos detonar aquela picanha gorda e morangos com chantili, torta de chocolate e muito sorvete.
Chegou a nossa vez!
Salada o caramba!
Refri diet nem pensar!
Nosso Lema: Mais vale um barrigudinho na cama do que um gostosão na frente do espelho.
Nosso Ídolo: Bussunda.
Queremos Jô Soares para Presidente da Comunidade.
Nosso Mascote: Joca Pançudo
Nosso grito de guerra: Abaixo os sarados! Viva os barrigudinhos!
Nossa maior vantagem: Aquecemos no inverno e fazemos sombra no verão.

(*) Aos gays: Minhas desculpas pela brincadeira.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O último cálice





Meu nome é Joaquim, vulgo Jocão. Não posso reclama da infância. Virei o que sou por vagabundagem mesmo. Meu pai pagou estudo para mim e pra meus dois irmão. Eles seguiram na vida e eu não aproveitei. Eu matava aula para fuma maconha. Minha mãe sempre me colocou de castigo, e me proibia de sai com Adilton, o Ditão. Mas, eu fugia. Não tinha medo apanha. Ditão era mais velho e malandro, mas arrumava as mulherada e maconha para mim. Em troca eu entregava a mercadoria pra os cliente e buscava a grana. Se a polícia me pegasse não dava nada porque eu era di menor. Assim eu protegia ele e ele me protegia dos cara maior que sempre vinham me pegar.  Quando cresci o meu tamanho grande me deu uma vantagem. Eu comecei a cobra as dívida para o Ditão e quebrar alguns osso. Peguei gosto pela coisa. Quando peguei uma arma pela primeira vez fui as nuvem. É uma sensação de poder que não dá para imagina. Dá vontade de sai atirando no primeiro que me olha feio. Mas o Ditão me deu uns toque. Ele me ensinou a atira e te controle. Ele dizia que era pra usa só em último caso. Não para poupa pessoa, e sim para não chama atenção ou responde processo por assassinato. Por causa da minha vida de crime meu pai morreu de desgosto e meus irmão se mandaram levando minha mãe, que morreu mais tarde. Eu dava muita dor de cabeça. Aí arrumei uma mulhé e  me amontoei. Quando nascero os filho, comecei a fazer coisa mais leve, mas o Ditão foi apagado por uma gangue rival. Aí tive que me defende, e começa a  trabalha por conta própia. Minha mulhé me largo e levou os filho com ela. Eles nem querem sabe de mim. Eu batia muito neles. Ela era uma vagaba. Ficava desfilando de minissaia pela vila. Tinha mais que apanha. Os moleque se metia na frente e apanhava também. Ela casou com um figurão que deu estudo para os menino. Chamam ele de pai. Um deles virou médico e outro, por ironia do destino, advogado. Mas, nem pensa em me ajuda. Se pude ele me ferra ainda mais.
Virei assaltante de banco. Matei, roubei e cometi outros crime na vida. Nunca conseguiram me condena. Até que cometi o pió crime de todos. Eu matei um garoto. Eu não me arrependia se não fosse pelo que vou conta. Eu e três amigo resolvemo assalta um banco de uma rua muito movimentada. É fácil fugi de moto pela contramão. Era para te saído tudo bem se não fosse pelo desespero do garoto de 14 ano. Ele fico nervoso e correu. Não tive dúvida. Atirei! Eu tinha dito que era para fica todo mundo no chão. Ele já era bem grandinho pra entende isto. Nestas hora a gente não pensa muito. Se mexe é risco pra nóis. Aí nóis queima mesmo. Mas o moleque ficou nervoso e correu. Tento fugi. Os meus amigo teria feito a mesma coisa, mas eu que cuidava da porta. Então subi(*) com ele. No meu ramo não dá muito para te arrependimento. Por isto encarei como acidente de precurso. Saímo do banco em duas moto pela contramão como disse. Ninguém pegou a gente. Depois que o dinheiro acabou resolvemo assaltar de novo. Desta vez fomo para uma cidade do interio. Já tinha passado uns meis, mas fomo reconhecido no entra na cidade, aí caímo em uma cilada. Nem entramo no banco e a polícia já tava esperando nóis. Se não fosse por aquele garoto talvez nóis não tivesse ficado tão famoso. Mas, aí que começo meu arrependimento. Fui condenado a 20 anos pela morte e pelo assalto. Meus amigo pegaram apenas 6. A morte ficou toda nas minhas costa. Também, tinha mais de 30 pessoa naquele banco. E todas testemunhou. Eu tive sorte de sai vivo do julgamento. Queriam me lincha. Por incrível que pareça meus amigo não foram tão feliz. Foram apagado na prisão em briga e desentendimento. Os três da mesma forma. Triste coincidência. Eles, condenado por penas leve, foram morto e eu que fui condenado por assassinato, to  vivo.
Eu nunca tive dor de consciência muito menos deixei de dormi por causa dos crime. Nem mesmo pelo garoto. Mas, depois que fui condenado, eu comecei a recebe visita do pai do menino. No início achei que ele queria me mata, xinga, guspi na minha cara. Mas, o cara me perdoou. Ele veio para me dize que me perdoava e que me recupera seria um alívio pra ele. No começo eu ria. Achava que ele era loco. Ele dizia que se eu aceitasse o perdão dele, meu coração ficaria mais leve e minha vida ficaria melho. Eu achava que era uma piada, mas, como apanhava muito na prisão resolvi presta atenção nele. Do nada, os cara me batia. Pensei que era por te matado o garoto. Mas, depois achei que era coincidência porque qualqué mano teria feito o mesmo num assalto.  Se eu tivesse puxado o gatinho notra  ocasião ou se eles soubesse que eu batia na mulher e nos filho poderia não está contando esta história.
O cara tinha razão. Ele foi me conquistando e eu fui melhorando. Até parei de apanha. Minha vida só não melhoro totalmente porque estava preso e a vida dentro de uma prisão não tem graça. É muito sofrida. Mas, para as circunstânça tava bom. Um domingo sim outro não, ele vinha me visita. Trazia cigarro, comida, tudo que podia, para mim e para mim comprar segurança. Eu pedi droga. Mas, ele disse que me faria mal para mim e para minha recuperação.  Ele me disse que era sozinho porque a mulhé o tinha deixado e que eu de certa forma substituía o filho dele. Por isto que a morte do garoto começou a doe na minha consciência. No começo tive pesadelo e pedi pra ele não vim mais. Ele até deu um tempo. Mas, eu senti falta. Não só das coisa que ele trazia. Eu senti falta dum amigo. De olhar nos olho dele e pensa que se eu pudesse volta atrás não teria puxado o gatilho. Ele acabou sendo meu confidente. Eu contei toda minha vida pra ele. Hoje eu saio daqui. Cumpri 12 ano. Posso sair por bom comportamento. E sabe quem está lá me esperando. Não são meus filho nem a vagaba da minha ex-mulher. Sim, ele, o pai do menino. Vem me busca e vai me leva para almoça. Depois de tudo de ruim que fiz na vida eu ganho um anjo da guarda. Ele disse que até emprego vai me arruma. Eu so um cara de sorte.
– Jocão! Tá na hora. Vai sair ou gostou da hospedagem?
– Que nada, guarda Belo. Vou nessa. 
– Comporte-se então para não voltar mais.
– Claro que não volto – gargalhadas.
Não acredito que esto saindo por este portão.
– Olá, posso te chamar de Joaquim em vez de Jocão? É que este apelido não me traz boas lembranças e precisamos esquecer o passado para termos vida nova.
– Claro que sim! Também quero esquece o passado.
Minutos depois ...
– Pode pedir o que quiser.
– Faz tanto tempo que não como picanha. A comida da prisão não varia.
– Garçom! Duas picanhas completas para começar.
Três picanhas depois...
– Vais querer sobremesa?
– Oba! Se não for pedi muito. Vi numas revista da prisão mamão papai com caxis.
– Garçom! Dois cremes de papaia com cassis.  O que vais fazer agora?
– Vou procura um trampo honesto e me vira.
– Eu tenho uma proposta. É um trabalho bom para ti.
– Mesmo? O que?
– Ser caseiro da minha casa de campo.
– Sério. Puxa. Depois de tudo que fiz...
– Pare! Isto ficou no passado. Vida nova, lembras?
– Sim! Vida nova. E o que vou te que faze?
– Fácil. A casa agora está abandonada. Mas, vou contratar empregados. Tu vais cuidar que eles
façam as suas funções com os animais que vou comprar e com a casa.
– Legal. Gostei. Quando começo?
– Hoje mesmo. Se quiseres ir, vamos agora.
– Topo. Eu não tenho nada mesmo.
Quilômetros depois...
– Eis a tua nova casa.
– Nossa! Que massa. Nunca morei tão bem assim.
E chega a noite.
– Gostaste do jantar.
– Sim. Tava uma beleza. Mas to me sentindo estranho, com sono.
– É o efeito do sonífero.
– Como?
– Não adianta reagir. Eu coloquei um sonífero muito potente na tua bebida. Tu vais dormir dentro de
instantes e só acordará após muitas horas. 
Por quê?....
Muitas horas depois...
– Eu vou te responder por que. Tu mataste meu filho. Um jovem indefeso que ficou com medo em um assalto. Não dava para ver a diferença entre um menino assustado e um perigo? Ah! Claro. Não podes responder amarrado e amordaçado. É que não aguento mais ouvir a tua voz. Por quê tu achas que fui no presídio todos estes anos? Para ser teu amigo? Para te perdoar? Que ingenuidade. Só fiquei com o receio de tu não seres burro. Mas, deu certo. Até meu suposto afastamento. Tu sentiste falta. Eu só não dou uma gargalhada agora em respeito ao meu filho. Tu acabaste com a minha vida. Minha e de minha mulher. Ela me deixou? Não!. Ela está em uma casa de repouso. Nunca se recuperou. Tentou se matar 3 vezes. Mas eu não, eu consegui ficar sóbrio. Só para vingar meu filho. Lembras daquela conversa sobre aceitar meu perdão para tua vida melhorar? Com tu és burro. Eu que pagava pelas tuas surras. Mas, era só para machucar, e muito. Eu te queria vivo. A tua morte cabe a mim. Por isto, também paguei para te proteger. Já teus comparsas não me serviam para nada, pois meu negócio era contigo. Eu ganhei tua confiança para te atrair para cá. Estudei toda tua vida com investigações. Muita informação tu mesmo me passaste. Caíste direitinho. Esta parte foi muito fácil. O difícil foi esperar 12 anos. Mas, como eu disse, queria esta vingança pessoalmente, se não, teria mandado te matar como fiz com teus cúmplices. Era necessário que tu cumprisse cada dia para não abreviar teu sofrimento. Agora eu estou vendo a tua cara de apavorado que logo vai acabar. Durante todo este tempo eu vivi a tua vida. Agora vou viver a minha. O que vou fazer? Não sei. Dinheiro nunca foi problema. Talvez eu abra uma ONG para ajudar os pais que tenham a vida transformada por bandidos como tu. Sei que não vou trazer meu filho de volta, mas eu devia isto a ele. Agora meu menino está sendo vingado por cada pá de terra que jogo no seu assassino enquanto ele me olha apavorado depois de beber o último cálice.

(*) Subir – Na gíria de bandido significa matar.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Indignação total


Tamanha é minha indignação que eu nem sei como começar este texto, mas vamos lá, vou escrevendo e ver no que vai dar...
Minha esposa tem um amigo muito querido, o Valtinho que, com seu carisma, conquistou também a minha amizade.  Ele é engraçado, muito divertido e percebe-se facilmente que tem um grande coração. Mas, na cabeça de alguns estultos ele tem um defeito: É gay.
O fato é que, ele gay assumido, é muito feliz e seus verdadeiros amigos não estão nem ai para sua orientação sexual, pois seu caráter e companheirismo são maiores do que os de muitos héteros.
E depois, para se assumir em uma sociedade estereotipada como a nossa é preciso ser muito macho como ele foi.
Mas, o que eu quero realmente publicar é o fato execrável que aconteceu com este rapaz.
Valtinho foi impossibilitado de usar o banheiro em um bar frequentado por gays, inclusive por ele com certa regularidade, só porque estava com um corte de cabelo “muy macho”, não trajava roupinhas coladas e não estava rebolando. Ao reclamar da discriminação foi agredido e ultrajado pelos “brilhantes e competentes” funcionários do local.
Portanto eu pergunto: Um local que acolhe pessoas que sofrem preconceitos todos os dias, não deveria ser o primeiro a estar livre deste mal?
Se eu tivesse acompanhando meu amigo em um chopinho final de expediente eu seria discriminado por vestir roupa social e não ser homossexual?
Eu penso que os estabelecimentos não são construídos para gays. Eles que simpatizam com o local e o adotam. Então, como é bom ganhar dinheiro: “Sempre amei os gays”.
Na polícia, onde ele foi prestar queixa, foi desencorajado a fazer o registro sob a alegação que estes casos não dão em nada.
Ai surge uma nova pergunta: De que adianta as leis se as autoridades não cumprem sua função?
Mas, voltando a infeliz agressão ao meu amigo, não consigo imaginar o que passa na cabeça destes boçais. Para eles um gay é integrante de circo? A pessoa por ter orientação sexual diferente precisa andar com plumas e paetês? Um gay não pode se vestir e usar um corte de cabelo como qualquer pessoa?
Quem estes filhos de prostitutas pensam que são? O ser humano é livre para fazer o que quiser e ir onde quiser desde que não prejudique outras pessoas. E os gays não prejudicam ninguém. Eles só querem seguir a vida.
Claro que tem gay bandido. Mas, é bandido porque é um ser humano e não por causa da orientação sexual. Os presídios estão cheios de machões. Então por que esta raiva toda que faz um cretino agredir uma pessoa só porque ela pensa diferente? Será inveja? Será que o agressor tem tendência a homossexualidade e não tem a coragem que outros tiveram para assumir? Que esta pessoa pegue um relho e se penitencie com o autoflagelo em vez de encher o saco de quem está quieto.
Eu sempre me lembro do filme Philadelfia onde um gay portador do vírus HIV lutou a favor do seu direito de trabalhar. Muitos acharam o máximo e choraram. Mas, na vida real muita gente se defende atrás do: “Eu fiz tudo que podia” ou “Eu não podia fazer nada”.
A grande bosta de tudo isto é que a maioria das pessoas se sensibiliza e acha errado discriminar, mas poucos fazem alguma coisa. Medo? Preguiça? Falta de interesse? Sei lá!

Valtinho ainda é negro e de origem humilde. Logo ele tem todas as características que dificultam a vida de uma pessoa em uma sociedade hipócrita e preconceituosa. Mas, ele vai vencendo todas as batalhas a cada dia. Se formou, trabalha, produziu um média metragem(*), e vai levando a vida como todo ser humano. E seu lema é “energia positiva sempre”.

 É dele que eu plagio a seguinte frase:
“Viva a humildade, um dia levaremos mensagens de otimismos para os que agridem as minorias. Orgulho de quem somos e de quem nos criou.”

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Diário de Bordo



Há muito que perdemos o rumo.
O mar está lindo e calmo, mas de nada nos adianta. Com os instrumentos quebrados e o casco avariado perdemos totalmente o rumo.
De que adianta o vento estar favorável se não sei a que porto me dirigir.
O Sol poderia me guiar, mas faz tempo que não o vejo. Com este tempo nebuloso o dia se confunde com a noite.
O último pombo-correio chegou faz 40 dias. É fato que estamos totalmente fora da rota, se não os demais teriam nos achado. A última tempestade fez com que nos perdêssemos.
Com o último pombo vieram palavras do meu amor. É minha amada que me dá forças de continuar no timão procurando um caminho que não encontro.
Minha tripulação aos poucos sucumbe a fome e a sede. A água e a comida estavam racionadas.   Agora nada temos. Os poucos que sobraram me olham com orgulho por estar mais forte do que eles. De certa forma isto mantém as suas esperanças. O que eles não sabem é que, agora, o que realmente me importa é ver meu amor nem que seja uma última vez. Faz muito tempo que estivemos juntos, que fizemos amor. Não sei se a terei em meus braços novamente. Estou perdido neste deserto de águas.
Os marujos estão se indo, e aqui somente eu sei o que me mantém vivo. A cada linha que escrevo, um nos deixa.
Eu daria meu navio por um rumo correto, pelo caminho que me levasse para casa em segurança. Assim chegaria novamente ao coração da minha amada. Eu poderia morrer nos seus braços que morreria feliz. Mas não creio que terei esta sorte. Eu lembro dos nossos momentos em terra firme. São inesquecíveis. Não me sai da cabeça a imagem dela na praia esperando o navio sumir no oceano no dia que parti.


A saudade aperta meu coração e me deixa angustiado.
Eu supero a fome e a sede, mas esta ansiedade é que me mata aos poucos.
Só sobrou um marujo agora. Ele me olha sorridente achando que vamos conseguir. O coitado mal respira, sei que não lhe resta muito tempo. Já eu, não sei quanto tenho. Pronto ele se foi, seu sofrimento acabou. Agora só sobrou o meu. Sei que não vou conseguir, entretanto devo tentar ir até o fim. Ainda me sinto forte, mas parece que minhas mãos estão coladas neste timão e só desgrudam para eu escrever.
Vejo um amontoado de pedras. De nada adiantaria aportar nesta ilha estéril. Poderia levar a embarcação para que se arrebentasse nas pedras ou simplesmente deixar o leme livre para tentar sorte melhor. Mas, não devo desistir e sim tentar até esgotar a última força.
Já não vejo mais o horizonte, apenas a imagem da minha amada sentada na proa sorrindo e acenando para mim.
O navio começa a afundar. Agora sei que não tenho muito tempo. Não consigo mais lutar sozinho. A última coisa que me resta fazer é colocar esta página arrancada do diário de bordo nesta garrafa, jogá-la ao mar e rezar para quem a encontrar tenha a compaixão de levá-la a minha amada Esperanza no porto dos Amores.  

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Faixa de segurança


Certa vez eu dirigia o meu carro na Av. Santana em Porto Alegre quando avistei um senhor parado no meio da rua, em cima da faixa de segurança, incentivando uma senhora, mais idosa ainda, a atravessar. Eu parei, porque não tive opção e não por obrigação, por um simples detalhe: Ali há uma sinaleira(*). E onde há sinaleira ela é soberana e a faixa de segurança passa a ser apenas informativa.
Este senhor, porque olhei feio para ele, me xingou e apontou para a sinaleira sem se dar conta, que além de eu ter razão, pois a luz verde estava para mim, era um cruzamento com semáforo de três tempos. O que exatamente naquele momento significava é que eu poderia ir em frente, mas os veículos que vinham no contra fluxo não. Isto porque a sinaleira também estava aberta para conversão a direita dos carros que vinham a minha esquerda pela rua que cruzava a avenida que eu trafegava. Ou seja, este senhor, um perfeito ignorante, não corria riscos porque estava visível, mas a senhora poderia ter sido atropelada, inclusive por um ônibus que faz aquele trajeto.
Sempre foi lei ter que parar na faixa de segurança. Evidentemente, como falei acima, quando não há sinaleiras. Porém, é uma lei que não era respeitada. De uns tempos para cá, em algumas cidades, passaram a controlar os locais onde tem a faixa, e os veículos que não pararem, quando tiver pedestre a atravessar, serão multados.
Muito bem! É o correto. Mas estamos preparados para isto? Não! Não estamos.
É claro que eu acho justo esta providência e demorou para acontecer. Mas, as autoridades competentes tinham que estudar todas as possibilidades de mudanças antes de aplicar tais punições.
Será que há, em todas as ruas que têm escolas, sinalizações prévias da faixa de segurança ou apenas quando chega em cima? Eu digo isto porque eu posso parar na faixa, mas o cara de trás não e foi-se minha traseira. Tá certo, isto que falei pode ser um pouco de exagero, uma vez que em locais escolares o trânsito já é mais lento por natureza e tem mais sinalização. Mas, é bom averiguar não é mesmo? Há louco para tudo.
Uma coisa que sempre me preocupou, e agora que é obrigado me preocupa mais ainda, são as faixas que ficam em esquinas de ruas transversais. Principalmente com avenidas. Como parar nestas faixas? Primeiro porque não há nem espaço. Tem que parar embicado deixando a parte do carro disponível para um ônibus que vem tocado e foi-se minha traseira novamente. Até hoje, em todas minhas andanças só vi duas faixas de esquina inteligente. Elas são recuadas na rua transversal justamente para que os carros entrem e possam parar sem oferecer riscos tanto para os motoristas quanto para os pedestres. Sim, porque um automóvel ao ser abalroado por trás, pode escapar do controle e causar um estrago maior. Estas esquinas inteligentes são na Felipe Camarão com a Oswaldo Aranha em Porto Alegre, e na Rua dos Ingleses com a Brigadeiro Luis Antônio em São Paulo. Inclusive, as esquinas são bloqueadas por armação de ferro para que pedestres imprudentes tenham que ir até a faixa que é reforçada pela sinaleira. É claro que deve ter alguns casos como estes espalhados no Brasil, mas são exceções. A grande maioria das faixas está entre as divisas das ruas mesmo e não tem sinaleira.
Outras faixas de pedestres com alto poder de periculosidade são as que ficam em avenidas e estradas. Nas avenidas, onde a velocidade é 60km/h e a maioria desrespeita e anda acima do permitido, talvez a solução fosse colocar sinaleiras. “Vai travar o trânsito”, alguns irão dizer. Mas, se a faixa, que lá está, é uma parada obrigatória, vai travar igual, e ainda, com muito mais perigo, pois o carro que lá parar pode ser achatado pelo que vem atrás, e foi-se uma traseira. Ufa! Desta vez não foi a minha.  Passarelas? Sim. Dá mais fluência ao tráfego, mas dentro de uma cidade, além do espaço, que muitas vezes não tem, deixará a cidade muito poluída. Mas, antes uma poluição visual do que vítima fatal. A rima foi de propósito.
Já no caso das estradas, é inadmissível que, em uma via onde a velocidade deveria ser no mínimo 80km/h, respeitado curvas e posto policial é claro, muitas vezes temos que reduzir a 40km/h por causa de uma faixa. Os ativistas que lerem este relato pularão da cadeira e falarão: “Que absurdo! As pessoas precisam atravessar a rua, principalmente os escolares.” É fato! Eles precisam sim. Por isto, vejo sob a minha óptica, se isto não for um pleonasmo, que as passarelas são a melhor opção. Há espaço, não poluem tanto desde que sejam bem construídas e são muito mais seguras. Assim o fluxo seguiria normalmente e as pessoas poderiam usufruir do direito de ir e vir sem correr riscos.  “Mas, sempre há pessoas que não caminharão 100m para usar a passarela”, alguém dirá. A minha resposta para este questionamento é muito simples: Quem não caminha 100m para usar uma passarela, também não caminha 100m para usar a faixa de segurança.
É claro que se houver possibilidade de fazer túneis em vez de passarela o beneficio final é o mesmo. Mas, o custo é maior.
Mas, não são apenas os motoristas que precisam se adaptar. Os pedestres também necessitam, e muito. Já cansei de parar na faixa ao ver candidatos a travessia e a pessoa continuou parada feito uma estátua. E não foi medo de atravessar e sim porque não tinha a menor intenção de fazê-lo. Será que esta pessoa estava vendo se nascia grama no asfalto?
Dá vontade de descer do carro, pegar pelo braço e fazer atravessar na marra.
Se não tem intenção de atravessar não fique na faixa. Vá para outro lugar. Não fique esperando carona, taxi, “Tuc Tuc”, clientes (ups – retiro esta), até mesmo porque os carros não podem parar em cima da faixa. Menos ainda fique falando no celular, ou com outra pessoa, gesticulando como se fosse um sinal para os automóveis.
Se for atravessar de fato, mostre a sua real intenção do que quer fazer. Estique o braço, se for preciso, fazendo sinal para pararem.
Em um mundo perfeito, como os países desenvolvidos, naturalmente que falando de trânsito, o ideal e desejado seria que todos respeitassem as faixas. Mas, enquanto isto não acontece providências têm que serem tomadas por nós e pelas autoridades.

(*) Semáforo, farol, sinal de luminoso de rua.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O sutiã sobre a cama



Carlos Eduardo é um cara muito admirado e bem relacionado. Ele é sério, trabalha, estuda, ajuda seus pais e também sua namorada Luciane. Ela é linda e simpática e eles formam um belo casal. Mas, Cadú, assim chamado pelos amigos, esconde um segredo.  Ele tem uma atração incontrolável pela melhor amiga de Luciane, a Adriane. Carlos Eduardo a conheceu quando acompanhou Luciane em um evento de moda, ocasião em que as duas se reencontraram depois de muito tempo. Elas são amigas de infância e acabaram se afastando pelos motivos que a vida cria sem muita explicação.
Adriane é linda. Muito mais que Luciane. Mas, para Cadú, apesar da atração que sente pela amiga da sua namorada, é Luciane a mulher da sua vida.
Ele sempre tentou evitar um contato mais próximo, percebido pela Luciane.
– Por que tu não gostas da minha amiga?
– Quem disse que não gosto? (Gosto até demais – pensou ele).
– É que tu sempre a evita.
– Impressão tua meu amor. Gosto dela sim (imagina se ela soubesse que tenho sonhos eróticos – pensou novamente).
– Então não vais te importar se ela ficar uma semana comigo na casa de praia dos teus pais.
– Claro que não meu amor. Fiquem à vontade. (Ainda bem que só irei nos fins de semana, assim não sofrerei tortura em vê-la de biquíni o tempo todo na piscina).
Os pais de Cadú preferem ir para o sítio, o que faz com que a casa de praia esteja sempre disponível.
No Sábado pela manhã ...
– Adri – falou Luciane – vais na frente com o Cadú porque tu és maior do que eu. Ficarás mais confortável.
– Não! Imagina se vou separar o belo casal. Já chega eu estar indo de chá de pera.
– Vais na frente e pronto. É que eu costumo dormir. Eu tenho sono de pedra, e aqui atrás, para isto, é mais confortável e seguro.
E de fato na viagem, Luciane caiu em sono profundo e Adriane puxou assunto.
– Minha amiga é uma mulher de sorte por ter um cara assim como tu.
– Obrigado. Mas, ela é incrível.
– Eu sei. Mas, ela só fala só coisas boas de ti. Eu só encontrei pilantra até agora.
– Uma mulher bonita assim não devia ter dificuldades  (Putz escapou).
– Humm tu me achas bonita? Obrigado.
Carlos Eduardo não gostou muito daquele “humm” nem do sorriso que ela deu. Quer dizer, ele adorou mesmo não querendo gostar. Ele sentiu um calafrio que veio do dedo mínimo do pé, correndo pela espinha e chegando até o último fio de cabelo. Aquela atração que sentia e que lhe tirava o sono aumentava e o perfume dela era espetacular. A Janela entreaberta fazia com que o vento deixasse seus cabelos esvoaçantes e ela mexia sensualmente a cabeça para ajeitá-los.
– Que mulher é esta meu Deus? Por que está acontecendo isto comigo? – pensava ele.
A vontade que ele tinha era de parar no primeiro motel na estrada e passar o xaveco baseado naquele “humm” e o sorriso safado que ela tinha dado.  Mas, ai ele lembrou que sua amada estava no banco de trás e acelerou o carro para chegar mais rápido ao destino.
E chegando lá, iniciaram o ritual de bagagens...
– Amor! Enquanto eu ajeito as coisas aqui, mostre o quarto de hóspedes para a Adri.
Na verdade, o quarto é uma suíte e mostrar para aquela Deusa foi uma tortura imensurável para ele. Mas, como poderia dizer não sem chamar a atenção.  Ele pegou a bagagem e a conduziu para seus aposentos. Mas, a verdade é que ele estava com vontade de pegá-la no colo em vez da mala.
Após as coisas ajeitadas é hora da piscina...
Carlos Eduardo tentou não olhar para Adriane, mas foi impossível. Tudo que ele queria era conseguir não olhar para aquela mulher avantajada que parecia estar usando um biquíni infantil. Então ele voltou para dentro casa ...
– Ah amor! Fica aqui com a gente.
– Já volto.
Enquanto Adriana usufruía a piscina intercalando com o banho de sol, Luciane fazia as unhas embaixo do ombrelone. 
Cadú retornou com o jornal. Seria uma ótima distração para que ele não cometesse o pecado de cobiçar a melhor amiga da sua namorada até que ...
– Lu – disse Adriane – Passa protetor em mim?
– Ah! Não dá! Pode estragar as unhas. Amor! Passa protetor nela.
– Mas, Luciana ...
– Ai amor. Deixa de ser retrógado. Não tem nada de mais. E depois eu estou aqui.
Então ele teve que passar. Ao mesmo tempo em que tinha satisfação, suas mãos suavam.  Ele percebeu o sorriso de Adriane, mas fingiu não ver. Ele terminou de passar nas costas e parou.
– Ah! Passa completo – disse Adriane.
Ele olhou para Luciane como quem quer aprovação. Ela, por sua vez, fez sinal de positivo com a cabeça. Então ele sentiu aquelas pernas e aqueles glúteos tão admirados e desejados.
– Luciane é pura demais – pensou ele.
A noite chegou e rolou uma pizza. Os três conversaram amenidades e as moças foram dormir. Carlos Eduardo ficou na sala porque estava passando um filme que ele queria ver muito. Como o sono não veio, ele emendou outro filme. Então percebeu leves passos em direção à sala. O seu quarto fica no lado oposto. Logo, só podia ser da Adriane. Quanto mais ela se aproximava, mais o seu perfume se tornava presente e aquele calafrio aumentava.
– Oi! Não sabia que estavas aqui ainda.  Eu não consigo dormir.
Ele sentado, ficou olhando para aquele mulherão de pé a sua frente, com aquela camisola sensual, curta e semitransparente.
– Eu já estava subindo. A Luciane sempre fica me esperando.
– É legal o jeito que tu a tratas. Eu te admiro muito.
Ela foi até ele e o beijou no rosto, tipo cantinho de boca e deu boa noite. E ele subiu rapidamente fugindo daquela situação que lhe tentava. Na manhã seguinte, Carlos Eduardo ficou na cama até tarde com o objetivo de reduzir o tempo de contato com a tentação. Ele já havia falado que iria embora logo depois do almoço para não pegar o trânsito de retorno. O que ele queria mesmo era se livrar do veemente desejo.
Durante a semana ele teve momentos bem mais tranquilos. Futebol, churrasco e chopinho com os amigos fizeram a semana passar mais rápido. Ele, estava ansioso para voltar para a praia, porém, preocupado com a situação a enfrentar e novamente ficar entre a cruz e a espada. Chegou, então, o dia mais desejado pela grande maioria das pessoas racionais, a sexta-feira. As reuniões que ele tinha a tarde foram canceladas. Com a intenção de fazer uma surpresa para Luciane não avisou que estava saindo mais cedo.
Ele chegou na casa de praia e sentiu um silêncio que só não era total por causa do barulho do chuveiro que ele escutou ao se aproximar do seu quarto.
– A Lu está tomando banho e a maluquinha da Adriane deve estar na piscina. Vou entrar de mansinho. Cada tempo ganho, é um sufoco a menos – pensou ele.
Ao entrar no seu quarto ele percebeu um sutiã que não conhecia em cima da cama e achou que de surpreender passaria a ser surpreendido com roupinhas novas que Luciane poderia ter adquirido. Ele também sentiu um novo perfume de sabonete e sentou na cama para aguardar o banho terminar e curtir aquele aroma delicioso.
– Ela caprichou – pensou ele.
Mas, a surpresa foi grande mesmo. Quem saiu do banho com um perfume irresistível e enrolada em uma toalha minúscula foi a Adriane. O susto foi mútuo.
– Ai! Desculpa – disse ela – Meu chuveiro estragou e a Lu disse que eu poderia tomar banho no de vocês. Só estou à vontade porque achei que chegarias bem mais tarde.
– Saí mais cedo. Mas, e a Lu?
– Ela saiu recém. Foi no centro com uma amiga que passou aqui. Disse que ia demorar, pois só te espera a noite.
Com cabeça embaralhada com a cena inusitada e o perfume daquela mulher, Carlos Eduardo fica parado olhando fixamente para ela que disse:
– Oi! Tudo bem?
– Ah sim! É que tu me pegaste de surpresa. Não sei o que dizer. Tu assim na minha frente, no meu quarto. Isto deve ser teu – disse apontando para o sutiã.
– Sim é. Posso vestir aqui ou posso vestir no meu quarto. Tu escolhes.
Tonto com aquela beleza de cinema ele respondeu sem pensar:
– Que tal não vestir?
– Excelente escolha.
Com esta resposta Cadú esqueceu todos os princípios e agarrou a moça tirando-lhe a toalha e a beijando com todo desejo que estava reprimido há meses.  Ele a pegou no colo e a levou para o quarto onde estava hospedada e tudo aconteceu lá. Se não conseguiu preservar a fidelidade com Luciana pelo menos não fez onde dormiam juntos.
Após o fato consumado, nada aliviava a sua consciência. A Luciana estava para chegar. O que fazer? Contar a ela e perder a mulher da sua vida?
– E agora? – disse ele – Como contar para a Lu?
– Tu estás louco? Não a amas?
– Claro que sim. Ela é a mulher da minha vida. Quero casar com ela. Mas, estou com a consciência pesada.
– Não fique. Eu sei que desperto muito desejo nos homens. E percebi há muito tempo que sentias atração por mim. Eu joguei pesado. Eu tentei, te provoquei e consegui. Mas, não quero te prejudicar. Nem a Luciana. Aconteceu uma única vez e vai ficar assim. Uma amiga vai passar aqui para me pegar hoje mesmo. Daqui a dois dias eu embarco para a Europa e ficarei muito tempo lá. Não estrague a tua vida por um egoísmo meu.
Quando a Luciana voltou, as coisas já estavam contornadas sem vestígios do pecado original. Adriane realmente foi embora naquele dia para depois rumar para a Europa.
Algumas horas depois...
– Cadú! Tu és um safadinho.
– Por quê? – Pergunta ele assustado. Achou que Adriane teria contado.
– Porque eu pedi para Adri te seduzir. E ela fez. E não me contaste nada.
– Mas, amor por que fizeste isto?
– Para ver até onde tu aguentavas aquele mulherão. Aguentando ela, tu aguentas qualquer tentação.
– Estás satisfeita com o resultado agora?
– Ah! Não fiques bravo. Minhas outras amigas vivem dizendo todos os homens são iguais, inclusive tu. Eu até achava que sim.
– Achavas?
– Claro. A Adri me contou que tentou de tudo e tu nem bola. Eu te amo meu amor.
Naquela noite, Carlos Eduardo dormiu como uma criança e aliviado por não contar, pois a sua namorada não era tão inocente quanto pensava. Somente após a confissão de Luciane, entendeu porque a coisa estava tão descarada e ela nem ligava.
O único problema para ele é que nunca esqueceu o perfume, que naquele dia, exalava do banheiro, e o sutiã sobre a cama.